Em meio a uma crise na articulação política após a derrotas do governo em votações no Congresso Nacional, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) usou um apelido pejorativo para se referir ao secretário-geral da União Brasil, ACM Neto. O partido faz parte da sua base aliada.
Em ato do governo federal ao lado do governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), Lula chamou o ex-prefeito de Salvador de “grampinho”.
O apelido foi dado por adversários em meados dos anos 2000, no primeiro governo Lula, quando o então senador Antônio Carlos Magalhães (1937-2007), avô de ACM Neto, foi investigado por supostamente comandar um esquema de grampos telefônicos ilegais na Bahia.
Na época, ACM Neto era deputado federal e um dos mais ferrenhos opositores a Lula no Congresso Nacional. Atualmente, a União Brasil é considerada integrante da base aliada do governo Lula, mas o partido se diz independente.
A legenda foi contemplada com três ministérios no governo Lula (Comunicações, Integração Nacional e Turismo) e também comanda órgãos federais cobiçados como a Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba).
Mas enfrenta atritos internos: em abril, a ministra do Turismo, Daniela Carneiro, pediu desfiliação do partido. Parte da bancada da União Brasil, mais alinhada ao bolsonarismo, tem votado contra pautas de interesse do governo no Congresso Nacional.
A referência a ACM Neto foi feita no momento em que Lula citava pesquisas eleitorais que apontavam uma possível vitória nas urnas do ex-prefeito de Salvador nas eleições para o governo da Bahia em 2022, o que não ocorreu.
Lula afirmou que, antes da eleição, desconfiava do potencial eleitoral de Jerônimo Rodrigues, mas foi convencido por Rui Costa de que ele seria o melhor candidato.
“Eu vim para cá [para a Bahia], Jerônimo 3%, o grampinho quase 80% [das intenções de voto]”, disse Lula, sendo fortemente aplaudido por apoiadores.
Jerônimo Rodrigues, do PT, venceu as eleições no segundo turno com 52,8% contra 47,2% de ACM Neto, que optou por ficar neutro em relação à disputa presidencial. Na Bahia, os dois partidos seguem em campos opostos.
Nesta quarta-feira (10), ACM Neto assumiu o comando do Instituto Índigo, braço de educação do União Brasil que tem como objetivo “a difusão de ideias democráticas e liberais” na sociedade.
Já o Palácio do Planalto teve nesta quarta suas primeiras reuniões de freio de arrumação com partidos da base após seguidas derrotas no Congresso.
Ao mesmo tempo em que aconteceu uma cobrança do Planalto, também houve um compromisso com a liberação de emendas e de cargos no governo.
(JOÃO PEDRO PITOMBO – Folhapress)
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