O indígena Antônio Pessoa Gomes, 62, Cacique-Geral dos povos Potiguara, que vivem na Aldeia Forte, localizada no município de Rio Tinto-PB, fez uso da Tribuna Livre da Câmara Municipal de Patos-PB durante Sessão ordinária desta terça-feira (09.10) para rebater declarações consideradas racistas e preconceituosas proferidas pelo jornalista Isaias Nóbrega (em Patos) e o apresentador de TV Samuca Duarte (em João Pessoa) durante programas radiofônico e televisivo do Sistema Arapuã de Comunicação no último dia 28 de setembro de 2023. A solicitação da Tribuna Livre da casa Juvenal Lúcio de Sousa, feita através do ofício 001/2023 com base no artigo 79 do Regimento Interno, foi assinado pelo Coordenador Regional da FUNAI – Fundação Nacional dos Povos Indígenas - Eugênio Herculano de Arruda Junior. O órgão, vinculado ao Ministério da Justiça e Segurança Pública do Brasil, protocolou um documento junto ao MPF solicitando intervenção para que sejam adotadas algumas medidas, entre elas, abertura de processo na Justiça Federal para apurar as falas proferidas nos programas de rádio e TV do Sistema Arapuã de Comunicação.
Tribuna Livre
Durante seu pronunciamento, o Cacique Caboquinho, como é conhecido, disse que as declarações foram ofensivas e promoveram generalizações negativas sobre os povos indígenas da Paraíba, quando o jornalista Izaias insinuou, durante análise do Marco Temporal discutido no Supremo Tribunal Fedetal-STF, que os índios estão mais interessados em acumular riquezas do que na preservação do meio ambiente e de suas tradições. “Tais afirmações são exemplos flagrantes de racismo estrutural contra os povos indígenas, ignorando a multiplicidade, experiência e identidade vividas há mais de 500 anos em nosso país”, ponderou o Cacique sob aplausos da plateia indígena presente.
Pronunciamentos
O vereador Jamerson Ferreira (Podemos), que é jornalista de profissão, considerou importante a representação indígena na câmara, lamentou as declarações do jornalista Isaias, mas, lembrou do histórico profissional do colega e de sua conduta ilibada ao longo de mais de 35 de atuação na imprensa patoense. “Peço-lhes que não avaliem o colega Iazaias apenas por uma fala recortada. Trata-se de um homem de bem”, garantiu o edil, lembrando que no dia seguinte, ele apresentou de público um pedido de desculpa, se retratando. Em um a parte, o vereador Ítalo Gomes (Republicanos) apresentou pedido de desculpas em nome do Poder Legislativo “corroborando com o pedido já feito pelo próprio jornalista que tem uma história de muito respeito na cidade de Patos. É inegável que ele extrapolou em sua fala, mas também não podemos negar que ele foi muito honesto em seu pedido de desculpas, típico de um profissional probo”, analisou Gomes. No mesmo a parte, a vereadora Nadir (Republicanos) se desculpou perante os indígenas, em nomes dos patoenses, mas também ressaltou as qualidades profissionais do jornalista Izaias Nóbrega. “Um homem íntegro e honrado que cometeu um deslize que pode acontecer com qualquer um de nós”, salientou a parlamentar, reconhecendo, no entanto, o direito dos indígenas de se indignarem.
O vereador Zé Gonçalves (PT) condenou as declarações do jornalista, lembrando que esse tipo de discriminação já perdura por mais de 500 anos no Brasil. “Quem respeita não ataca”, avalia o vereador petista. “Aqui na câmara, que é uma casa burguesa, eu não trato as questões por pessoas, mas o coletivo”, acrescentou o parlamentar, exigindo respeito aos povos indígenas.
O vereador Ramon de Chica Pantera (UB), se dirigindo aos Potiguaras, lembrou que a câmara não compactua com declarações racistas de quem quer que seja, parabenizou os indígenas pela iniciativa de se defender das ofensas, lamentou pelas declarações do jornalista e pediu, em nome da câmara, desculpas aos povos indígenas. “A indignação maior não é com o jornalista, mas sim, com a emissora pela reincidência”. Pontua.
Retratação
No último dia 29 de setembro, o jornalista Izaias Nóbrega, através do programa Paraíba Verdade da rádio Arapuã de Patos, reconheceu que foi infeliz em suas declarações consideradas racistas contra os povos indígenas e pediu desculpas de público. “Reconheço o mau emprego das palavras”, admitiu durante retratação. “Sou agora um aprendiz, adquirindo mais conhecimento da cultura indígena”, revelou o jornalista, afirmando respeito e remissão.
Assessoria Câmara Municipal de Patos
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